terça-feira, 23 de março de 2010

Manuel Cargaleiro no Colégio da Penina




ENTREVISTA
Onde nasceu?
Portugal é um rectângulo e é cortado pelo rio Tejo, que nasce em Espanha, atravessa Portugal e vai até Lisboa. Eu nasci no lugar onde o Tejo entra em Portugal, chama-se Vila Velha de Ródão. Lá existem umas rochas muito bonitas que se são as Portas de Ródão. Eu nasci mesmo aí.

Qual é a sua cor preferida?
Eu uso muito a cor azul nos meus quadros. Isto porque, tal como vocês, eu vivi perto do mar e então olhava para o mar e para o céu e era tudo azul. O azul influenciou-me. Se estivermos muito tempo a olhar para uma cor, acabamos por ser influenciados e pintamos mais com essa cor.

Porque é que usa quase sempre formas geométricas nos seus trabalhos?
Não sei se repararam, cá em Portugal muitas casas são revestidas por azulejos. O azulejo é um quadrado e o quadrado é uma forma geométrica, e quando eu era jovenzinho comecei a pintar azulejos, como vocês fizeram hoje. Foi a partir do azulejo que eu comecei a usar as formas geométricas, depois nunca mais parei. Com o quadrado e o círculo podem-se fazer muitas coisas muito bonitas.

Qual é o seu quadro preferido?
Isto é como se te perguntassem se gostas mais do pai ou da mãe, e tu respondes dos dois. Se me perguntares se eu gosto do quadro mais bonito ou do mais feio, vou dizer-te que gosto dos dois. São todos meus quadros!

Qual é o material usa para fazer a sua pintura?
Faço da maneira mais simples, como vocês também podem fazer em casa: com água, com guache. Pedem aos vossos pais para vos comprarem papel, guache e pincéis, depois podem pintar. Tenham cuidado para não sujarem a casa toda. O guache é um material muito bom para trabalharem. Há outras técnicas, como o óleo, mas vocês ainda são pequeninos para isso. O pastel de óleo é também muito bom para usarem. Todos devem trabalhar em casa e fazerem pinturas. Digam lá em casa que é importante ter material e um cantinho para pintarem.

Faz desenhos grandes ou pequenos?
Para fazer os desenhos basta ter um lápis ou uma caneta. Fica muito bem fazer desenhos pequeninos e depois começar a brincar e fazer desenhos grandes. Se tiver uma folha grande, faço um desenho grande, se for uma folha mais pequenina, faço desenhos mais pequeninos. Eu acho que fazer desenhos mais pequeninos também fica muito bonito. É preciso é fazer muitos desenhos.

Onde é que aprendeu a pintar?
Ah! Eu vou dizer-te uma coisa, o pintar depende da boa vontade. Os meninos devem jogar um bocadinho à bola, andar a correr e depois ir para casa e fazer uns desenhinhos, sabes que isso faz bem, é uma disciplina. Não é só andar sempre a brincar. Quando fores mais velho, vais ter professores que te vão orientar e ensinar. Mas agora, o menino que goste da pintura, tem de fazer desenhos da sua cabeça. Aprendemos a pôr no papel, aquilo que vimos e gostamos de ver.


Quanto tempo demora a pintar uma tela?
Há telas que demoram muito tempo e há outras que demoram pouco tempo. As que demoram muito tempo, nem sempre são as mais bonitas. Às vezes, demoro muito tempo a fazer um trabalho e ele não sai tão bem, mas o principal é ficarmos contentes quando o acabamos. Isto é uma pergunta tal como o tempo que demoramos nos trabalhos de casa. Há trabalhos de casa que são interessantes e há outros que são muito difíceis. Dependem da nossa disposição. Quem quiser fazer coisas bonitas, tem de trabalhar muito.

Com que idade fez a sua primeira “obra de arte”? Lembra-se o que fez?
Quando tinha a vossa idade, andava na escola e, ao lado da escola, havia um oleiro que tinha barro, como este com que vocês hoje brincaram, e eu via-o fazer aquelas coisas na roda e achava aquilo uma coisa linda. Eu também gostava de brincar com barro, e levava barro para casa para modelar, fazer bonequinhos. Eu tinha muita paciência, perdia muito tempo a modelar. Vocês devem também brincar com barro, porque eu sei que há meninos que só gostam de ver televisão. Isso não é bom. É preciso saber brincar de outra maneira. Eu gostava que vocês também gostassem de brincar com barro.

Gosta mais de pintar tela ou azulejo? Porquê?
Eu gostava muito de pintar azulejos e comecei a pintá-los. O que é preciso é concentrar-nos muito naquilo que nos der prazer. Se me apetecer pintar a óleo, pinto, se me apetecer pintar azulejos, pinto. Devemos fazer aquilo de que se gosta.

Que tipo de pinturas faz?
Eu saio de casa e vou passear, por exemplo, a Lagos. Ando a passear pelas ruas e absorvo o que vejo. Inspiro-me nas cores que vejo, nas árvores, nas casas, nas cores das casas, na paisagem e depois chego a casa e pinto. Eu faço uma pintura de interpretação livre. A sensibilidade da pessoa é mais importante do que fazer uma reprodução perfeita de um barco ou de uma casa.

Quais são as cores que mais usa nas suas obras?
Eu inspiro-me por onde passo. As cores que mais uso e que mais gosto são as que estão à minha volta e que me inspiram naquele dia. Há cores mais alegres e há cores mais tristes. Devemos pintar apenas com cores que gostamos e nunca com cores que não gostamos.

Quando começou a trabalhar passou por tempos difíceis?
Todas as profissões são bonitas, são boas. É preciso a pessoa sentir-se feliz naquilo que faz. A profissão que eu escolhi, que é ser pintor, é uma profissão muito difícil. Ninguém nos conhece, não sabemos se as pessoas gostam, ou não gostam. As primeiras coisas que comecei a vender, para ganhar a vida, foram imagens e o que modelava. Vendia pouquíssimo e baratíssimo, ganhava muito pouco. A vida de um pintor, de um artista, é uma vida muito difícil, de muitos sacrifícios. Não imaginem que é uma vida fácil. A minha mãe juntava dinheiro para me dar para eu poder pintar, porque o que eu ganhava não chegava. Os meus pais tinham que me ajudar.

Alguma vez pintou o seu retrato? Como pintou?
Por acaso pintei o meu retrato e dei a uns amigos. Pintei vários. Por mais que pinte retratos, são sempre diferentes. Não pintei, foi desenhado.

terça-feira, 2 de março de 2010

Reconto da Lenda: "O SENHOR JESUS DE ALVOR"

Há muito tempo estavam uns pescadores de Alvor a pescar quando avistaram um caixão. Não se ouvia falar de naufrágio há algum tempo, por isso, eles estranharam aquele caixão que, por sua vez, seguia em direcção a Alvor.
Quando o caixão encalhou na areia da praia, os pescadores puseram os barcos em terra e dirigiram-se à vila para contar o que tinham visto.
A população desceu à praia e decidiu abrir o caixão, o que não foi nada fácil! Quando o abriram, estava uma doce imagem do Senhor Jesus Crucificado. Ficaram a olhar uns para os outros, indecisos. Entretanto, alguém sugeriu que a imagem fosse para a Igreja Matriz. Foram precisos quinze homens para pôr a imagem às costas e estava no fundo do caixão um letreiro que dizia: "Senhor Jesus - Praias de Alvor". Maravilhados com aquela prenda do Céu colocaram-na no altar da Igreja Matriz.
Certo dia, o povo de Portimão resolveu roubar o Senhor Jesus a Alvor. Na noite combinada, os portimonenses colocaram o enorme crucifixo numa carroça atrelada a duas juntas de bois enquanto toda a vila dormia. Em silêncio caminharam até Portimão mas, chegando ao sítio das Morticeiras, não andaram mais porque ali era 0 limite das duas freguesias e a imagem pertencia a Alvor. Os ladrões, envergonhados e arrependidos, repuseram a imagem no altar da Igreja Matriz, a fim de que não se soubesse de nada.

Reconto e trabalho em plasticina- 3ºAno